Você já deve ter ouvido aquela história que conta como os pais reagem quando um filho pequeno engole uma moeda, conforme a ordem do nascimento.
Quando isso acontece com o primeiro filho, é aquela preocupação, aquele corre-corre. Liga para o pediatra, leva o pequeno ao pronto socorro, pede raio-X… Quando acontece com o segundo filho, a ansiedade é bem menor: “Ora, vamos acompanhar e esperar sair no cocô!” Agora, quando acontece com o terceiro filho, os pais não tem dúvida: descontam o valor da mesada!
Brincadeiras à parte, o fato é que a proteção e o zelo em relação ao primogênito é muito maior do que em relação aos demais filhos. E isso é natural. Afinal, é o primeiro filho que nos torna mãe. O nascimento dele nos possibilita aprender tudo pela primeira vez: amamentar, trocar fraldas, dar banho, acalentar para dormir. Nos possibilita passar pela experiência da primeira noite em claro, do primeiro resfriado, do primeiro engasgo, do primeiro medo. Com o primogênito, vamos, aos poucos, aprendendo a desvendar os mistérios dos cuidados com o recém-nascido, e vamos descobrindo que algumas dúvidas e aflições que nos assombram não são tão assustadoras assim.
Lembro que, quando tive meu primeiro filho, eu exigia silêncio. Eu queria protegê-lo do barulho, bem como dos vírus e bactérias, das correntes de ar, dos raios do sol e dos perfumes fortes. Não queria que pegassem no colo, não queria tirá-lo da rotina, não queria que perdesse a soneca.
Quando tive meu segundo filho, duas coisas fundamentais eram diferentes: primeiro, era a minha segunda viagem – então, amamentar, trocar fraldas, dar banho e acalentar para dormir já não eram bichos de sete cabeças. Segundo, eu também tinha um menino pequeno em casa na companhia do recém-nascido. Um menino que fazia barulho ao brincar, que colocava a mão suja na cabeça do bebê, que carregava os vírus trazidos da escola porta adentro. Um menino que, com seu jeito desajeitado, pedia para pegar o irmãozinho no colo e para ajudar no banho.
Meu segundo filho me tornou uma mãe mais tranquila, menos encanada e mais flexível. Acho que todos nós saímos ganhando.
Hoje, vejo que a insegurança que sentimos quando recebemos o primeiro filho no colo faz parte. Faz parte do pacote da maternidade. Com o tempo, nos sentimos mais seguras. Com o tempo, ou com a chegada dos outros filhos.
Mariana Sutti Copelli, 33 anos, é publicitária, mãe do Emanuel (7 anos), do Enrico (5 anos) e da Micaela (6 meses). Autora do livro “Botei o bebê de bruços – Crônicas de uma mãe de três filhos”, à venda pelo Clube de Autores: www.clubedeautores.com.br